Por Joana Bendjouya

O funcional kids é uma modalidade física infantojuvenil, tendo como dois principais objetivos o ensino do movimento e o desenvolvimento das capacidades físicas das crianças. Além de buscar fortalecer e aperfeiçoar movimentos naturais que, devido ao sedentarismo e ao uso demasiado de eletrônicos, acabam tendo a eficiência do desenvolvimento prejudicados.

As atividades são recomendadas para crianças de sete aos 14 anos, sempre priorizando movimentos lúdicos e dinâmicos. De acordo com Nadine Maciel Madruga, educadora física e professora de funcional kids, as crianças são estimuladas a realizar movimentos que são essenciais na infância através de exercícios de corrida, saltos, agilidade, velocidade, coordenação, força e equilíbrio, além de jogos competitivos e cooperativos, sempre com uma experiência que para elas é muito conhecida: o brincar.

“É tudo muito natural, funciona para eles através da comunicação das crianças, que é o brincar, assim conseguimos resultados muito mais satisfatórios e memórias felizes. É preciso gerar uma experiência positiva das crianças com o exercício físico para que no futuro eles continuem em movimento e assim não se tenha alto nível de sedentarismo, que é a realidade do nosso País”, destaca. Nadine salienta ainda que são comuns equívocos quanto ao entendimento das pessoas sobre a modalidade do funcional para jovens e crianças, onde o foco principal é de desenvolver habilidades para movimentos naturais e importantes no desenvolvimentos infantil, como correr, chutar e por consequência, futuramente a vivência esportiva na fase adulta ou ainda infância.

Segundo a professora, as aulas são divididas em faixas etárias, de acordo com os níveis de desenvolvimento motor, sendo a primeira turma com alunos a partir de três anos, com atividades trabalhadas com foco maior na imaginação. “É uma aula totalmente diferente da dos maiores, tendo o foco em um universo imaginativo e a proposta das atividades sempre nessa linha”, comenta.

As aulas podem ser realizadas em formatos individuais ou em grupos, dependendo da escolha da família. “Quando feita individualmente, o foco ficará somente naquele aluno durante a atividade, mas quando é feito em grupo, além das atividades, trabalhamos também a socialização, o que é muito importante. É uma possibilidade de quebrar barreiras”, destaca Nadine.

Já a psicóloga Gisele Scobernatti orienta a escolha pelas atividades em grupos, fortalecendo assim o convívio social e toda a transformação e crescimento que ele pode proporcionar para crianças, principalmente se elas apresentam alguma dificuldade de se adaptar ou se encontrar em alguma modalidade, ou até mesmo nas atividades das aulas curriculares de educação física, na escola. Além disso, a prática de exercícios estimula a produção de substâncias que melhoram o humor e ajudam no tratamento de depressão e ansiedade, por exemplo.

“Muitas crianças sofrem de ansiedade e depressão, e o exercício físico, principalmente realizado de forma prazerosa, libera hormônios do bem-estar, deixando-os mais felizes e bem dispostos e impactando na sua autoestima”, comenta. Gisele ressalta ainda a importância da construção motora para o desenvolvimento psicológico das crianças e jovens, lembrando que cada etapa deve ser respeitada e ter um olhar atento para este desenvolvimento. “Ouvimos falar que com tal idade a criança deve ser capaz de fazer isso ou aquilo, em outra idade deve ter adquirido habilidades para desempenhar tais e tais atividades e, via de regra, o que salta aos olhos são as impossibilidade ou dificuldades apresentadas pela criança. Ou seja, quando ela não consegue realizar aquilo que se espera de um ser humano naquele período da vida. O conceito de desenvolvimento deve ser compreendido como uma transformação complexa, contínua, dinâmica e progressiva que inclui, além do crescimento, maturação, aprendizagem e aspectos psíquicos e sociais. Antes de caminhar é necessário sentar, engatinhar; antes de correr, é esperado o caminhar; antes da criança falar é esperado balbuciar e é assim que se dá o desenvolvimento humano.”

Para Paula Castro da Silva, mãe da Isabel, de dez anos, a busca pela atividade funcional foi justamente para compensar esses momentos de sedentarismo que ocorrem durante o uso prolongado dos eletrônicos. “Isabel vai com vontade para as aulas e sempre sai feliz, animada e gosta muito. Cada dia que vai é um treino diferente. Nossa experiência têm sido muito positiva. Hoje em dia, onde as crianças estão mais sedentárias e com muito tempo de telas, a atividade do funcional kids é uma prática muito válida”, comenta.

Isabel participa das atividades em grupo desde dezembro de 2022 e, segundo a mãe, o vínculo criado com a professora e os colegas é muito importante, faz com que ela se sinta segura para escolha da atividade que contribui para o crescimento dela. “Minha filha já fazia aulas de natação com a Nadine e, justamente pela profissional que ela é, sempre muito atenta, divertida e sensível, rapidamente se vinculou com a Isa, e assim avançamos para outra atividade física. Tem sido muito positivo, o ambiente das aulas é bem agradável, é um espaço bem planejado para ofertar o funcional kids".

Principais benefícios das atividades funcionais para crianças:
- Melhora a postura
- Manutenção e desenvolvimento da flexibilidade
- Crescimento e manutenção do peso adequado
- Melhora a interação social
- Aprendizado de novas habilidades
- Melhora na autoestima
- Aumento do foco e atenção
- Aumento da capacidade de aprendizagem

Existe alguma contraindicação?
Nadine explica que os movimentos propostos nas atividades lúdicas são comuns na rotina das crianças, não tendo risco de causar nenhum trauma ou lesão por uso de pesos ou objetos prejudiciais à saúde e ao desenvolvimento. Pelo contrário, serão estimuladas habilidades importantes para cada faixa etária. “É importante ampliar a biblioteca motora das crianças.Quanto mais elas conseguirem realizar movimentos, habilidades, mais elas vão se sentir seguras em realizar novos movimentos futuramente. Isso é importante para saúde física e mental, além de combater o sedentarismo, sobrepeso e obesidade”, comenta.

Mas, caso haja alguma restrição de exercício, é importante o acompanhamento de um profissional. Se houver avaliação médica apontando alguma limitação, o profissional de educação física irá adaptar as atividades conforme as possibilidades do aluno. A contraindicação é sempre em relação a algum exercício, e não ao método, explica a profissional.

A educadora física explica ainda que a perda ou manutenção de peso também é um ponto positivo para as crianças que praticam a atividade física, além de ganhar força, resistência e melhorar o condicionamento físico. “Todas as aulas podem parecer um simples momento de brincadeira, mas elas têm um grande planejamento de habilidades motoras que precisam ser desenvolvidas pelas crianças, como por exemplo saber chutar uma bola, correr, pular. É necessário ter essas habilidades bem trabalhadas, desenvolver as habilidades ainda na infância para que futuramente, na adolescência e vida adulta, eles se sintam seguros de ter tido a experiência e ter vivenciado essas modalidades”, completa.

A pediatra Vanize da Silva Vaghetti explica que a prática de atividade física na infância trará benefícios para o crescimento, além de ser essencial para o desenvolvimento saudável e, quando realizada de forma coletiva, os resultados são ainda mais positivos.

“O estímulo e realização da prática de esportes influencia o convívio social e a sensação de pertencimento a um grupo, além de ações positivas que serão levadas para o resto da vida”, diz. Além disso, a pediatra relata que, ao realizar as atividades, já se está prevenindo o risco de desenvolver doenças e melhorando o condicionamento físico da criança. “Quando estimulamos as crianças a realizarem alguma atividade, a se movimentarem, já estamos fazendo a prevenção da ansiedade, de doenças cardiovasculares e depressão. Dentro dessas doenças podemos destacar a obesidade infantil, em alta em nosso País, que muitas vezes é consequência do sedentarismo e também da má alimentação, podendo ocorrer desenvolvimentos de doenças”, enfatiza.

A pediatra alerta ainda para o tempo destinado ao uso dos eletrônicos, devendo ser sempre monitorado e, quando muito pequenos, não se deve ofertar, estimulando sempre o brincar livre e com estímulos de imaginação. “As atividades físicas, preferencialmente de 60 minutos diários, são muito importantes para o crescimento das crianças, além do tempo destinado para brincar e, se possível, os pais e responsáveis devem em algum momento participar das brincadeiras para que se criem vínculos de cuidado e afeto”, orienta.